quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013



Pareidolia  

Aprendi agora mesmo uma palavra nova
engraçada e estranha palavra
que significa o hábito de ver
num conjunto desencontrado de riscos ou borrões
-seja o que for-
uma figura humana, talvez de um animal
ou de uma flor .

O que podemos saber olhando para o céu
e observando as nuvens que vagueiam ali
e aqui
no céu que é meu.

Me parece que tenho  essa habilidade
em alto grau
altura suma .
O que muito me alegra 
pois não tinha 
até hoje 
em alto grau coisa nenhuma.

É que eu nem necessito olhar riscos borrões
-seja o que for- .
Me basta mesmo apenas fechar os olhos
e vejo o que quero ver de qualquer cor.

Tudo menos a ti
porque da cor
que tinha a tua cara
aqui
no meu coração ,
me esqueci.

Geraldes de Carvalho

sábado, 23 de fevereiro de 2013


Amigos 



Sentado 
no círculo iluminado 
da sanita, 
no escuro,
meu pensamento levita  
e vai até ao céu
na esperança de ali encontrar
deus 
que se perdeu . 


Mas nada encontra . 
O céu está  vazio. 

Então meu pensamento chora
e vai mais longe
mais para cima
ao lugar dos infernos. 

E ali 
naquele lugar impróprio 
procura deus . 


E ó deus ! 
Ali o encontra 
agachado num canto
agadanhado
na face imberbe 
como quem
muito sofreu 
e teme se mostrar. 


Então 
meu pensamento
se aproxima devagarinho
e faz um gesto
de conciliação . 

E no momento
que dura uma eternidade
ficamos para sempre
amigos. 


Amigos
de verdade, 



Geraldes de Carvalho 


Lindo amor


Queria esquecer, amor que me esqueceste...

O nosso amor foi lindo, amor.

Andamos numa roda gigante 
e fomos do inferno para o céu 
apenas num instante.

E eu ao ouvir apenas a tua voz 
fiquei logo a saber 
que eras tu a feiticeira de Oz.

Uma feiticeira diferente 
porque senhora 
verdadeira 
de feitiços de amor
e, além disso, vidente.

E só de olhar apenas os lábios teus 
me ajoelhei ouvindo-te 
como se fosses deus.

E é por isso que eu queria esquecer 
que fui esquecido assim .

Embora eu sempre diga 
que tu não és ruim.
Quem é ruim sou eu 
que te deixei esqueceres-te de mim.

Geraldes de Carvalho