quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


206- Lembranças

Os ramos sem folhas da minha figueira
lembram-me os doces frutos que comi no verão .

Mas é apenas uma lembrança.


Caminhando sem destino pelos campos
lembro-me da minha infância na nossa horta .

Mas falta-me a forte companhia do meu pai.


Às vezes sonho ainda com a minha escola primária .
Aprendi muito com o velho professor.

Ele não me batia porque eu era pequenino. 


Quando me casei era muito desempenado
por isso desposei uma deusa .

Mas nunca cheguei até ao céu.


Do que mais me censuro
é de ter perdido pelo caminho muitos amigos.

Encontro-os na minha lembrança.


Geraldes de Carvalho

sábado, 15 de fevereiro de 2014


37- Aonde estás, ó ar

Dentro de casa
não posso estar
preciso de ar.

Saí para a rua
mas não achei
caminho meu

Cá nesta rua
há muita gente
anda despida
é indecente.

E mesmo eu
estou sem chapéu
estou sem gravata

por isso estou
aqui sentado
envergonhado.

Vesti gravata
pus um chapéu
já não sou eu.

Pus-me a andar
e a respirar
isto é bem giro
ó pistotiro.

Ó pistotiro
grabato eu
o eu que eu fui
está no céu.

Vim num andor
recomendado
pelo prior.

Encontrei deus
que foi eleito
cá, pelos seus.

Disse sou bom
eu não achei
e desandei

-O eu que fui
não me obriguem
a repetir
porque não rima-

Disse-lhe adeus
ao deus dos céus.

Precisei de ir
lá à privada
mas estava toda
emporcalhada.

Ó quem me dera
em casa estar
mas não me encontro
tenho só ar.

Ar não me falta
só falto eu.

Quem me perdeu ?

Geraldes de Carvalho