sexta-feira, 11 de abril de 2014

Antigamente

Antigamente é que eu pensava claro.
As palavras acorriam à minha mente
sem nelas parecer eu ter pensado
pegavam as ideias que ali estavam
à sua disposição
compunham um poema
uma canção
e nada parecia complicado .
Mas agora, senhores
as palavras se embrulham
manejam um sentido que eu não quero
e se me impõem como um patrão bruto
um senhor fero
que não se importa de voltar atrás
desdizendo o que disse
deixando-me devoluto de razão
envergonhado como um mau rapaz .
E então se ri
este ser indiscreto
que às vezes pareço eu
e outras vezes
sou
ainda eu
mas indirecto.

Geraldes de Carvalho

sexta-feira, 4 de abril de 2014


Que risa...

Que riso homem 
-que risa, hombre-

Não retrocedas os lábios
velho.
Anda mas sempre em frente
com o sorriso na boca
toda.
Ou
melhor
antes um riso franco
que nos revele quem és
que é para isso que serve o riso.
O riso que torna humana
a tua face .
O riso que trasborda
da tua face .
O riso que trasborda
de ti.


Ri que o mundo está
cheio de desrazões para rir.

Ele é a seriedade dos doutos, loucos
malucos.
Ele é a imbecilidade dos que mandam
desmandam e se riem também
com risos ocos.
Ele é a nossa seriedade
perante
tanta
imbecilidade .
Ou
talvez
a nossa imbecilidade
perante
tanta
seriedade.

Ri.
Ri tanto
até que fiques sério
para sempre
de tanto rir.

 Geraldes de Carvalho