5ºpenduricalho
Quando acordei a meio da noite apenas vi um olho. Duvidei que fosse o meu próprio e suspeitei que era do outro, esse tal que me espreita todo o dia. Que estaria ele a espiar ?
Daí a pouco comecei a perceber porque me vi a curta distância nu e deitado de barriga para baixo. O que é que eu estarei ali a fazer, me perguntei .
Esperei que me mexesse e esperei muito mesmo e tanto que acabei por adormecer. Ainda bem porque logo me apercebi de que estava a espreitar, atentamente, a terra à frente do meu nariz . Que poderia eu encontrar ali . Só terra ou algum bicho insignificante.
E tinha razão porque depressa comecei a ver um bichito que se movia decididamente mas sem direcção definida.
Interessante aquele bicho, porque parece mover-se com a desenvoltura de um homem .
Afinei melhor a vista daquele olho e vi que na realidade aquele bicho era um homem que crescia à medida que eu sintonizava o olho para aquela imagem.
Aonde vai ele, o homenzarrão ? Na verdade parecia que eu andava por ali sem nenhuma razão . Andava por aqui e por ali.
Óh assim não! pensei. Para me ver assim, não preciso de dormir e acordar e adormecer outra vez. A minha desorientação é apenas aparente. Há muitos lugares para ir desde o céu até ao inferno.
Mas quê? Que céu ? Mas quê ? Que inferno?.
Que mania aquela, daqueles bichitos. Não se contentam com menos. Só palavras grandes é que têm naquelas cachimónias.
O céu é aquele pedaço de terra que tem em frente dos
olhos e o inferno, idem, idem, aspas, aspas.
Como eu gostaria de dizer isto, aquele bichinho. Mas não podia, não senhor. Eu estava dormindo atrás daquele olho que pertencia aquele outro.
E continuei ali deitado de borco a contemplar um bicho que andava por ali bastante às aranhas procurando pelo céu.
Ou seria pelo inferno ?
Geraldes de Carvalho
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