sexta-feira, 29 de março de 2013



5ºpenduricalho

Quando acordei a meio da noite apenas vi um olho. Duvidei que fosse o meu próprio e suspeitei que era do outro, esse tal que me espreita todo o dia. Que estaria ele a espiar ? 
Daí a pouco comecei a perceber porque me vi a curta distância nu e deitado de barriga para baixo. O que é que eu estarei ali a fazer, me perguntei . 
Esperei que me mexesse e esperei muito  mesmo e tanto que acabei por adormecer. Ainda bem porque logo me apercebi de que estava a espreitar, atentamente, a terra à frente do meu nariz . Que poderia eu encontrar ali . Só terra ou algum bicho insignificante. 
E tinha razão porque depressa comecei a ver um bichito que se movia decididamente mas sem direcção definida. 
Interessante aquele bicho, porque parece mover-se com a desenvoltura de um homem . 
Afinei melhor a vista daquele olho e vi que na realidade aquele bicho era um homem que crescia à medida que eu sintonizava o olho para aquela imagem. 
Aonde vai ele, o homenzarrão ? Na verdade parecia que eu andava por ali sem nenhuma razão . Andava por aqui e por ali. 
Óh assim não! pensei. Para me ver assim, não preciso de dormir e acordar e adormecer outra vez. A minha desorientação é apenas aparente. Há muitos lugares para ir desde o céu até ao inferno. 
Mas quê? Que céu ?  Mas quê ?  Que inferno?. 
Que mania aquela, daqueles bichitos. Não se contentam com menos. Só palavras grandes é que têm naquelas cachimónias. 
O céu é aquele pedaço de terra que tem em frente dos
 olhos e o inferno, idem, idem, aspas, aspas. 
Como eu gostaria de dizer isto, aquele bichinho. Mas não podia, não senhor. Eu estava dormindo atrás daquele olho que pertencia aquele outro. 
E continuei ali deitado de borco a contemplar um bicho que andava por ali bastante às aranhas procurando pelo céu. 
Ou seria pelo inferno ? 

Geraldes de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário