sexta-feira, 2 de maio de 2014


Sou eu. Assim, assim...

Sou eu
o anjo ou o demónio
ou a serpente
que a Eva ofereceu
-naquele dia de azar-
o fruto da ciência
e por isso,
ou outra coisa igual,
o tal deus
me castigar.

E não é erro, não
porque deus 
não tem tempo
e é
por isso,
o verbo inconjugado  
no infinito eterno... 



Que homem, esse deus!
Certamente queria
ficar com todo o saber
para vos-nos manobrar
como, se, lhe apetecer.



E também
me é difícil entender
porque é que esse tal deus
me castigou
se conhecia
 que o homem
apenas mastigou o fruto que,
 de verde, 
mal sabia
-e se bem bonito parecia
era, afinal, bichado-
e  o cuspiu no rosto da mulher.


Pobre mulher cuspida
por dar a maçã e a vida .


Apenas engoliu,
o homem bruto,
um pouco desse sumo
que lhe ficou na boca
da maçã mastigada
que nascera na árvore
mal formada
desse mundo
que o tal deus criara.


E o pior foi que com esse sumo
ainda engoliu
-e é com isso que me nutro-
o bicho que ali vivia
e a viver continuou
lá -cá- dentro
do homem bruto.


E foi assim,
posso afirmar,
que foi criado o mundo
para o homem habitar.

Mundo horroroso enfim
em que todos os animais
se comem uns aos outros
e também a mim
assim, assim...

Geraldes de Carvalho

Ps. :
Melhor fora talvez
que a deus comessem
e acabassem
com a criação
de vez.

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