segunda-feira, 15 de julho de 2013




Palavras deixai-me, deixai-me

Quando te vi
e te amei
-logo te amei -
fiquei em ti
em ti me transformei .
E porque amor
a mim não tenho,
quando te vi
me destruí
te destruí.
Por isso agora,
oh meu amor,
vou construindo
neste cantar
sobre os destroços
de ti, de mim
neste lugar,
neste lagar
em que me esmago
e espremo,
um outro ser a ti igual
e a mim também
mas, meu amor
num outro grau
superior
supremo ;
um outro grau
em que o amor
oh meu amor,
está para aquém...

Ah se eu pudesse livrar-me das palavras
destas palavras-pedras sem sentido
mas pesadas
pesadas.
Palavras que me afastam de ti
palavras que te pintam
te modelam
te constroem
como se tu existisses realmente...

Como um canto insistente nos meus ouvidos
que não sou eu
que tu não és ;
uma imagem ofuscante nos meus olhos
que não sou eu
que tu não és ;
um rugoso abrasivo nos meus dedos
que não sou eu
que tu não és ;
um cheiro forte e incerto no meu nariz
que não sou eu
que tu não és .
E a minha mente cheia de ti
como se fosses eu
e não só nos meus sonhos,
no meu sonho
como sonho que és
ou que devias ser.

Oh! palavras, palavras
rimas,
libertai-me delas
aqui ficar deixai-me, só
só, só e só comigo
que, ainda que macho inteiro,
sou ela
ela, ela e ela
ela
ela
ela
ela
ela

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