quinta-feira, 26 de dezembro de 2013



Por favor

Quando olho para mim
e me medito
sou só eu
quem está aqui .
Mas quando
o que pensei
te comunico
deixo de ser
apenas eu
-estás aqui também-.
E mesmo o que era
eu
se transformou
de modo que o pensar
inexoravelmente
se mudou .
Por isso
meu amor
como isto
é o que acontece
não digas
por favor
que me conheces .

Geraldes de Carvalho

sábado, 21 de dezembro de 2013


Já chegou o Natal

Olá! olá!
Ou! ou!
O Natal chegou.

Nasceu o menino deus
aqui no meu coração
que se alargou
alegrou
e já não cabe inteiro
na minha mão .

E cabia
é a verdade.
Aqui se aconchegava
e morria
de felicidade.

Mas deus chegou
e como é grande
ocupou
tudo o que é dele
e não é
com toda a facilidade .

E é um deus pequenino
de brincar.

Gostaria que o vísseis
se fosse um deus a sério.
Nem vos quero falar !

E agora que ele ocupou
todo o meu coração
e tudo grita ossana!
ou, ou !
ão, ão !
Não sei como vou viver
tão cheio de alegria estou .

Talvez viva
vida de cão .
Ão, ão
ão, ão
ão, ão.

Geraldes de Carvalho

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Guardei o meu segredo


Guardei o meu segredo
nas folhas da laranjeira
mas delas nasceram flores .

A flor é uma palradora
fala azul
fala vermelho
amarelo
e doutra cor
mas o meu segredo
é roxo.

Amor
amores ...

Geraldes de Carvalho

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Palavras feias


Estavas a chatear-me
com palavras te atirei
tu foste e interpretaste-as 
aí é que eu me lixei.

Palavras leva-as o vento
toda a gente ouviu dizer
mas se o vento as esborracha 
nas nossas ventas
não é bonito de ver .

As palavras são bonitas
são bonitas as que são
e as que não são bonitas
tenho-as eu aqui na mão

As que tenho aqui na mão 
hei-de por-lhe a mão em cima
e ao fim de nove meses
vai nascer uma menina

E há-de ser uma menina
bem bonita
tão bonita
como a velha carunchosa
fada-madrinha .

Menina feita de tons
de palavras sem sentido
e construída de sons
que não são bons 
para o ouvido
nem para as ideias.


E as pessoas dirão
Que palavras feias feias !


Geraldes de Carvalho