quinta-feira, 23 de janeiro de 2014


Há beijos
que nos nascem
como os filhos
que nascem
e não sabemos querê-los.
Há beijos
que a nossa boca recebe
como dádiva de um céu
que fique aqui à mão .
Há beijos
que nos sabem muito mal.
O mal da amargura
que com gozo
saboreamos .
E há beijos
que dormimos a sonhar
que são os beijos
que nos fizeram dormir
de que não vamos acordar.
Há beijos que sonhamos
no meio da música
de que gostamos
embora de quem seja
não saibamos.
E há beijos
que nos afloram os lábios
como a aragem
que sopra daquela margem.
Há beijos
que nos fazem palpitar
os lábios
como se estivéssemos a murmurar .
Há beijos que são raios de luz
que apagam nossos olhos
e outros que são mantos e sombras
estorvos e antolhos .
E há os beijos que brilham
como pensamentos claros
e outros tortuosos que só vemos
com os olhos fechados .
Que beijos esses são?
Se alguém me perguntar
só sei que lhe direi :
Os que me não dão, não.
Geraldes de Carvalho
V

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